sábado, 26 de dezembro de 2009
Piadas de Caserna
Não exagero se afirmar que uma parte significativa da minha formação intelectual, aí uns 8%, se baseia na colecção quilométrica de revistas das Selecções Reader's Digest que crescia na casa dos meus avós. Longas tardes, serões e por vezes madrugadas passava eu a devorar com os olhos toda aquela sabedoria mundana e inócua concebida de e para donas de casa da classe média. As minhas secções favoritas eram (e aposto 20 jewros em como também eram as vossas) aquelas das anedotas fornecidas pelos leitores. Existiam, de facto, centenas quiçá milhares de pessoas em todo o mundo a gastarem papel, selos e imaginação na esperança de verem as suas hilariantes 8 a 10 linhas de hilaridade publicadas nas coloridas páginas das Selecções. Isto pensava eu do alto dos meus saudosos 9 anos, e como me abismava esta ideia de haver tanta gente unida num propósito comum, o de semear na edição de Agosto de '66 ou noutra qualquer, e por conseguinte na consciência Universal, aquele piada fascinante que ouviram na fila do supermercado. Mas não só de humor se fazia uma revista, era frequente encontrar artigos inspiradores sobre trigémeos separados à nascença que se reencontram duas décadas depois após um deles ter um sonho profético sobre os irmãos, por exemplo. Na verdade, exceptuando esta história e as páginas das anedotas, não há muito mais que consiga recordar do conteúdo das SRD. Era muito mais importante para mim a maneira graciosa como se alinhavam dezenas de exemplares nas prateleiras da estante da casa dos meus avós, como se ordenavam facilmente segundo o mês e o ano e como havia sempre mais uma para ler assim que me fartava daquela que tinha nas mãos.
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