quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O infinito por detrás dos meus olhos




O sujeito da foto chama-se Daniel Tammet e é um savant, o que significa que consegue fazer coisas inimagináveis com o cérebro como aprender um idioma numa semana ou recitar os primeiros 22.500 algarismos de Pi, sem se enganar uma única vez. Segundo o próprio, não se trata somente de decorar números e letras, apesar de uma boa memória ajudar bastante nestas proezas, mas também e sobretudo de os visualizar em forma de imagens que se encadeiam harmoniosamente como paisagens em movimento (investiguem sinestesia se quiseram perceber melhor a ideia).

É claro que muitos factores contribuem para as extraordinárias capacidades deste savant e de outros como ele (entre os quais autismo e doenças neurológicas crónicas), mas não deixa de ser espantosa a quantidade de coisas maravilhosas e quase sobrenaturais de que o cérebro humano é capaz, entre as quais traduzir conceitos abstractos como cálculo e regras gramaticais em imagens ou sentimentos. Não deixa de ser espantoso também que o veículo dessa informação toda contida nas vossas caixas cranianas seja constituído por meros impulsos eléctricos e químicos. Tudo aquilo que já viveram, aprenderam ou imaginaram, todas as sensações, conceitos abstractos e factos estão ou podem vir a ser armazenados sob uma forma física. A percepção da cor azul, o sabor de nabos cozidos, a memória do primeiro dia de escola, aquele sentimento de desespero quando nos apercebemos que trancámos o carro com a chave lá dentro, tudo isso é modulado e codificado em pequenos impulsos eléctricos e químicos.

Hoje em dia já é possível utilizar implantes sob a forma de eléctrodos para ajudar cegos a ver e mudos a falar, ou melhor, para lhes transmitir e para receber impulsos que representam imagens ou sons. Embora sejam feitos extraordinários, estes avanços da neurologia são ainda muito embrionários mas creio que talvez um dia consigamos determinar a chave que nos permita descodificar essa linguagem de electrões (e hormonas), e manipulá-la a nosso bel-prazer, não só para ajudar pessoas com deficiências mas também para expansão recreativa/pedagógica das nossas percepções. Se tal acontecer, além de nos permitir experienciar coisas alheias ao nosso quotidiano (eu gostaria de saber o que sente um pára-quedista no primeiro segundo fora do avião, por exemplo, ou qual a sensação de compreender na totalidade equações diferenciais e coisas do género), talvez nos permita também descobrir impossibilidades maravilhosas - qual seria a sensação de atravessar esta dimensão espácio-temporal? E como será estar em vários sítios ao mesmo tempo?

Isto claro partindo do princípio que o cérebro humano tem capacidade de lidar com esse tipo de informação. Mas eu acredito que sim, basta saber falar com ele na linguagem certa e deixam de existir limites. Chegar a esse ponto é um questão de engenho e o resto depende unicamente da nossa vontade.

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