sábado, 26 de dezembro de 2009
Piadas de Caserna
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
O candeeiro que conheceu Darwin e se esqueceu de dizer que existia
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Complemento
“Há sítios do mundo que são como certas existências humanas: tudo se conjuga para que nada falte à sua grandeza e perfeição. Este Gerês é um deles."
Miguel Torga In "Diário VII"
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Gerês 2009
Após uma longa viagem de camioneta cheguei a Braga onde segui com o Ermo de carro até ao Gerês. Lá chegados e após instalação e posterior relax partimos, como não poderia deixar de ser, até à zona da barragem de Vilarinho das Furnas a fim de contemplar a paisagem, ver a noite cair e fumar uns picas antes de ir dormir.
entrando no trilho e seguindo pela Fraga do Suadouro.
Obviamente não é por acaso que terá o nome de Suadouro, porque realmente muito suor é despendido para a galgar, especialmente quando o calor de Agosto já aperta.
E lá subimos com sofrimento e dedicação, parando para recuperar forças nas poucas sombras existentes. Por fim lá avistámos os carvalhos, que assinalavam que estávamos muito próximos da nossa primeira paragem a sério.
Poucos metros mais à frente lá chegámos ao nosso esperado recanto. E ali ficámos durante o resto da tarde na sombra das duas grandes árvores, um Carvalho e (julgo) um Vidoeiro, ambos bem fartos de folhas, alimentados pela ténue nascente que faz do local uma espécie de oásis no meio da aspereza tão própria da serra no Verão.
Ali nos fomos entretendo entre a simples pasmaceira de ficar de papo para o ar a ser simpaticamente atormentados por uma enorme variedade de insectos voadores e o perscrutar dos espaços em volta a observar a restante vida existente.
Desta feita os nossos amigos sardões, ao contrário do ano passado, foram menos attention whores, pelo que foi mais complicado captar imagens.
Por volta das 16h lá partimos montanha fora, ou dentro, passámos pelos prados onde as vacas meio derrubadas pelo calor tentavam pastar
Até que alcançámos então o outro lado da serra
onde iríamos procurar um local para pernoitar junto ao imponente Pé de Cabril com os seus 1200 metros acima do nível do mar.
Assim ia caindo a primeira noite,
mais uma refeição à base de enlatados e um céu estrelado de tirar o fôlego com a Via Láctea gloriosa a coroar a abóboda celestial e algumas estrelas cadentes a alegrarem as nossas conversas, enquanto ouvíamos uma opera intitulada "IVAN EL TERRIBLE" e fumávamos uns picas. E, claro, com as nossas velas de cemitério a servirem de “fogueira”.
Na manhã seguinte, mais fim de noite que manhã, iniciamos a descida da serra rumo à mata da albergaria, com o intuito de iniciar a subida às Minas dos Carris. Pelo caminho, ainda na descida rumo à mata, vimos cerca de 8 Garranos, infelizmente a luz era muito fraca para tirar uma foto em condições. Mas fico sempre tocado quando vejo estes cavalos a viverem as suas vidas, com a sua família, livres na serra.
Depois de uns quilómetros lá atingimos a entrada onde iniciámos a subia às minas. Já tinha feito este caminho por duas vezes e já estava mentalizado para um dia complicado, não só pela distância a percorrer mas porque o piso é extremamente complicado, consistindo maioritariamente de pedras soltas com uma forma arredondada, que nos fazem querer chorar de cada vez que damos um passo e constatamos que voltamos meio para trás. Mesmo assim, não deixa de ser um espanto que alguns tugas, sendo nós conhecidos como um povo que não gosta de grandes esforços, se dêem ao trabalho de o subir para deixar lixo no topo da serra, e pelo caminho, claro.
Pouco depois de iniciarmos a subida, fizemos uma curta pausa para um banho matinal,
para depois subir,
e subir,
E, quando o calor já era de mais, e tendo nós todo o tempo do mundo, decidimos ficar umas boas horas em banhos numa bela lagoa natural rodeada por um cenário magnífico. Tão maravilhosa era a água que também o meu telemóvel insistiu em dar um mergulho, felizmente sem consequências maiores que uma quase crise cardíaca da minha parte.
Por volta das 17h, quando o calor ficou menos sufocante, lá continuámos nós a… subir rumo ao planalto.
Onde ao chegar nos cruzámos com um grupo de vacas que agora, depois de tanto enlatado, me pareciam macabramente e encantadoramente deliciosas.
Depois de vencido o planalto, a parte animicamente mais complicada, chegámos então ao topo da serra prontos para desfrutar do local e da paisagem que nos iria acolher naquela noite.
Era tempo de mais enlatados, de sentir algumas saudades de casa e de um prato de boa comida, mas sobretudo era tempo de mais céu estrelado, mais conversas, mais picas e, num daqueles acasos que nos fazem sentir afortunados, de um especial sobre David Lynch na Antena 2, que nos iria conduzir até ao fim da noite.
Na madrugada seguinte, pouco depois de acordar, fui alertado por um ruído que me causou estranheza. Após vencer a confusão inicial ergui a cabeça e para meu espanto vi, qual enviados do grande bode, as silhuetas de duas cabras de montanha num penedo por cima da minha cabeça com o nascer do sol ao fundo. Tal foi o meu espanto e emoção que entre o acordar o Ermo aos gritos e o correr para tentar captar aquele momento com a máquina, os pobres bichos fugiram para nunca mais os vermos. Pelo menos o Ermo ainda foi a tempo de as ver também.
Pouco depois iniciámos a descida, brindados logo ao inicio pelo planar de uma ave de rapina de porte generoso. Aproveitámos para um mergulho nas lagoas dos quatro pinheiros (nome de código) para despertar e, de facto, deu forças para a infinita descida que se seguiu onde as pedras redondas além de não ajudarem a descer mais rápido serviram para que os nossos pés atingissem ângulos impossíveis. Pelo caminho despedimo-nos também das magnificas borboletas que nesta altura tanta cor dão ao parque (Euphydryas aurinia e Callimorpha quadripunctata).
No fim de descermos o Vale do Homem demos de caras com hordas de turistas tugas que contrastam com os estrangeiros maioritariamente por substituírem o equipamento de montanhismo por toalhas, chinelos e até cães irritantes, ficando-se pelas lagoas que ficam ao inicio do trilho onde podem facilmente largar as suas garrafas de plástico e invólucros de chocolates Mars.
Seguimos então pelo interior da mata da albergaria, onde fomos recolhendo umas amoras que nos serviriam de pequeno-almoço. Pelo caminho cruzámo-nos com algumas lemas de bom porte e com alguns escaravelhos de cores exóticas que se refastelavam numa bosta.
Na pausa do pequeno-almoço, mais um mergulho...
Seguido de uma curta caminhada até ao último mergulho da jornada. Onde eu acabaria por comer um manjar que consistiu em restos de broa misturados com lulas enlatadas. Recomendo vivamente! O Ermo comeu a sua 497ª lata de atum.
Terminada mais uma pausa de chill-out, seguimos na nossa caminhada. Agora pela estrada de terra batida, também parcialmente geira romana, que liga a Campos do Gerês.
Aqui dá-se mais um daqueles mistérios do nosso cantinho à beira mar plantado. É que embora o parque, ou as autarquias, dispensem dinheiro a contratar jovens para ocuparem uns postos de controlo, que como o nome indica deveriam servir para controlar, nomeadamente o transito dentro da zona protegida, informando as pessoas que não podem estacionar nem parar dentro dessa zona, assim como sobre o limite de velocidade, nada disso parece ser realmente controlado. Uma vez que se encontram pessoas paradas a fazer picnics (ou pique-niques, como dizem lá na França) em zonas explicitamente proibidas.
A chegada ao parque da Cerdeira foi gloriosa, como se pode ver pelas nossas faces, com o calor e o cansaço acumulado a fazerem estragos.
Assim terminou a nossa viagem pela serra. Seguiu-se o descanso e o retorno a casa no dia seguinte.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Lamento, mas vamos ter de o abater
Ora, ontem enquanto via o ternurento “Clínica de animais”, deparei-me com uma cena comum, sobre a qual já me interrogo há alguns anos, em que um veterinário, depois de concluir que um hamster já não tinha cura para a sua doença, se vira para a dona e diz -lamento, mas vamos ter de o abater - ao que a senhora se desfez em lágrimas, claro está. Não é a reacção da senhora que me causa especial estranheza, mas sim, a habitual displicência com que o “médico” conclui que se tem de matar o animal, neste caso alegando que é um hamster, ainda por cima já de idade. Lembro-me que a primeira vez que me dei conta deste estranho procedimento, era eu um petiz, foi também num programa de televisão qualquer, em que abateram um cavalo porque ele tinha partido uma perna, e não era um cavalo qualquer, pois lembro-me de ver a dona chorar copiosamente, enquanto simultaneamente concordava com o veterinário, alegadamente porque a vida do cavalo não voltaria a ser a mesma.
Eu até sou a favor da eutanásia e, especificamente no caso dos Humanos, até acho que o direito à morte devia ser um direito fundamental. Mas realmente não posso deixar de me sentir feliz por não haver alguém “superior”, que embora gostando muito de mim, ache que não vale a pena eu passar pelos horrores de ter um ligeiro coxear para o resto da minha vida e me decida matar logo ali. E realmente dá que pensar, esta tendência um tanto ridícula que nós temos para exagerar tudo. Claro que esse ridículo faz parte, em parte, da nossa grandeza, mas bolas, imagine-se o caso de uma pessoa idosa, que tal como o hamster, padecesse de uma inflamação nos ovários (ok é a hamster), e obtivesse como resposta exactamente – Olhe, esta doença não tem cura com medicamentos, só mesmo operando. Mas, como já é tão idosa, não me parece justo faze-la passar por tal experiência. Lamento, mas vamos ter de a abater. – e já agora, rematando – Quer que entremos em contacto com a sua família para avisar que hoje não vale a pena contarem consigo para jantar?
quarta-feira, 15 de abril de 2009
The Obama Deception, ou "Oh não, a nova ordem vai dominar o mundo!!"
Ontem, enquanto navegava pela internet, encontrei, num fórum que costumo frequentar, um filme sobre teorias de conspiração chamado The Obama Deception. Quero já esclarecer que abomino Teorias de Conspiração, acho-as uma forma de simplificar o mundo, e pior, uma forma de alimentar a paranóia colectiva. Para além de não ter tido nada melhor para fazer, o que me levou a ver isto foi achar incrível que passados uns 4 meses desde a tomada de posse do novo presidente já existir um filme sobre o Obama. E ao acabar de ver, juro, que realmente a minha cabeça ficou algo baralhada. Não pela conspiração mal enjorcada apresentada no filme, mas pela própria natureza da coisa. Será isto uma brincadeira, que daqui a uns tempos vai ser desmontada para demonstrar às pessoas como elas são susceptíveis de acreditarem em tudo o que lhes é apresentado? Será apenas fruto de um grupo de pessoas que vendo a fragilidade paranóica dos humanos explora um filão que rende muito dinheiro? Ou será um conjunto de gente doente que, por pura sorte, tem a autonomia suficiente para fazer filmes? Francamente desejo, algo intensamente, que seja a primeira hipótese, desconfio que seja a segunda, e, com alguma tristeza, creio que seja a última.
O “casting” do filme é algo arrepiante. Francamente não existe um “perito/especialista” presente aqui que não tenha um ar profundamente afectado, e quando falo afectado não me refiro a uma pessoa com um ar cansado pelas horas de trabalho exaustivo que passou nas suas pesquisas, refiro-me a pessoas com sinais claros de desarranjos mentais. E se o casting é arrepiante, o argumento é de bradar aos céus. Lamentavelmente foi-me impossível decorar todos os pontos referidos no filme, mas há alguns que são uma verdadeira delicia.
Existe uma organização chamada de Nova Ordem Mundial que, tal como aqueles vilões dos desenhos animados que falham sempre os seus planos maquiavélicos episódio após episódio, tenta tomar conta do mundo instituindo um governo global. Esses senhores já financiaram grandes líderes como Napoleão ou Hitler, entre muitos, e como qualquer pessoa que saiba um pouco de história, ou então, que esteja simplesmente ligado à realidade, já deve ter reparado, falharam sempre. Claro que há aqui alguns pontos confusos, por exemplo, aparentemente estes senhores que têm como base o secular eixo Grã-Bretanha/Estados Unidos, financiaram o Hitler para dominar o mundo, e depois, não sei muito bem porquê, aniquilaram a Alemanha nazi, que eles próprios tinham financiado. Infelizmente não perderam tempo no filme a explicar este contra-senso, nem qualquer outro. Bom, e onde entra o Obama neste assunto? Bem, pode parecer um pouco rebuscado, mas ele, tal como Hitler, Staline, Mao, e outros, foi simpático para o seu povo levando-os ao engano… Um nítido sinal da besta, a demagogia, que não se vê em mais nenhum politico no mundo que não seja financiado pela Nova Ordem Mundial e pronto… Disso a concluir que o Obama será o novo Hitler vai um pequeno passo. É óbvia a ligação, e ainda é reforçada, de forma brilhante, por medidas que o Obama pretende implementar e que o definem, claro, como o Satã em pessoa. Entre elas estão a criação de um sistema público de saúde, com o óbvio intuito de controlar a saúde dos cidadãos com fins maquiavélicos e, mais grave ainda, implementar uma política de desarmamento da população civil para impossibilitar a sua auto-defesa quando as tropas forem tomar conta do país.
Eu francamente senti-me algo perdido no meio de tanta loucura. Mas claro que há mais. Mais do que Obama, que acaba por ser metido muito à pressão aqui, a questão da Nova Ordem Mundial causa-me estranheza e, mais ainda, espanto, por toda a paranóia que gera, não só por este filme, mas por me parecer um assunto alastrante. Eu pergunto-me, mas qual é a relevância desta organização? O que tem de novo esta ordem? O princípio básico é de que pessoas muito poderosas se reúnem com uma agenda que se baseia em defender os seus interesses, algo que me parece muito natural, mas, e mais uma vez saliento a importância da palavra paranóia nisto tudo, parece que esta organização tem quase uma omnipresença ao longo da nossa história, para estes teoristas. Mas apesar dessa omnipresença é uma organização estranhamente “omniinpotente” porque de facto nunca conseguiram atingir essa hegemonia mundial.
Sinceramente, o que há mais aqui que não paranóia? Qual é a relevância dessa Nova Ordem Mundial? Eu acho que é tão relevante quanto Deus, não compreendo o tipo de iluminação que tantas pessoas atingem quando vêem estes filmes, ou lêem os livros, sobre teorias de conspiração, e parecem que descobrem algo que sempre lhes foi oculto. Eu que me limito a ver os noticiários não sinto que descubra algo de novo quando me dizem que o poder económico se organiza para controlar os governos, ou que os bandos têm um poder desmedido situando-se acima da lei. Não fico espantado, por o Obama fazer aquilo que todos os políticos do mundo fazem desde sempre, seja pela demagogia, seja pelos tachos no seu governo. Essa é a história e a natureza da humanidade, mas não me venham com teorias da treta a dizerem que estamos numa altura sem precedentes em que a minha liberdade está posta em causa, como nunca antes. Foda-se, mas em que mundo é que estas pessoas vivem!? Em Portugal, no ano de 1974, terminavam décadas de ditadura, a Europa em geral no século XX esteve completamente dominada por ditaduras, alias até se pode traçar uma linha quase ininterrupta de ditaduras no séc. XX que começa no extremo ocidental da Europa e acaba no extremo oriental da Ásia, e querem-me vender a ideia de que vimos uma época áurea e vamos entrar na idade das trevas? E se existir efectivamente essa Nova Ordem Mundial, nos parâmetros paranóicos descritos, não nos servimos nós também dela?
Bem… isto dava até nunca mais. Apetece-me dizer, desculpa Michael Moore!!
segunda-feira, 30 de março de 2009
Filmes do fim-de-semana
Após o regresso de Rocky Balboa, num filme que acabou por demonstrar insuspeitos talentos do Sr. Stallone enquanto realizador, até como argumentista, e com um bocado de boa vontade, como actor, eis que volta Rambo, outro ícone vindo dos anos 80 incarnado por este senhor. Ao contrário de Rocky, que não era tanto um filme de acção mas um drama masculino ao bom estilo Americano, Rambo IV é um filme de pura acção onde os mortos caem em elegantes cascatas e onde a personagem Rambo se desenvolve sobre o próprio “valor” cultural excedendo-se a cada cena. Em suma, é um filme perfeito para um serão de fumos e copos entre amigos, com a garantia de tanto umas boas gargalhadas como de algum choque face ao gore do filme.
As “cidades” são prisões das quais não conseguimos escapar. Vivemos todos de sonhos, memórias e recordações, sabemos o que queremos, mas não existem caminhos que nos levem aos sonhos, não sem luta. Ao mesmo tempo, o que somos nós? Apenas as nossas memórias ou algo mais? E a realidade, será mais do que aquilo que nos é dado? Será a loucura o resultado do encontro entre realidades distintas? Esta e muitas outras questões vão emergindo ao longo de Dark City, um simpático filme de ficção científica, soberbamente suportado por um cuidado estético que por si só lhe vale um quase estatuto de culto.