terça-feira, 18 de agosto de 2009

Gerês 2009

Mais umas férias no Gerês, desta feita com o objectivo de cumprir um desejo de longa data. Fazer uma caminhada unindo vários spots da serra, com a “casa” às costas e sem direito a paragem pelo parque de campismo para recuperar entre caminhadas. Como companheiro nesta aventura tão dolorosa como gratificante tive o Daniel (aka Ermo) que se revelou um excelente parceiro, sem merdas nem paneleirices, tal qual Black Metal sem teclados.

Após uma longa viagem de camioneta cheguei a Braga onde segui com o Ermo de carro até ao Gerês. Lá chegados e após instalação e posterior relax partimos, como não poderia deixar de ser, até à zona da barragem de Vilarinho das Furnas a fim de contemplar a paisagem, ver a noite cair e fumar uns picas antes de ir dormir.




No dia seguinte o dia começou cedo, embora a incompatibilidade entre os nossos horários e os do parque nos tenha forçado a sair um pouco mais tarde, já depois das 9h, não evitando o calor abrasador com que a serra nos brindaria. Lá seguimos,



entrando no trilho e seguindo pela Fraga do Suadouro.



Obviamente não é por acaso que terá o nome de Suadouro, porque realmente muito suor é despendido para a galgar, especialmente quando o calor de Agosto já aperta.



E lá subimos com sofrimento e dedicação, parando para recuperar forças nas poucas sombras existentes. Por fim lá avistámos os carvalhos, que assinalavam que estávamos muito próximos da nossa primeira paragem a sério.



Poucos metros mais à frente lá chegámos ao nosso esperado recanto. E ali ficámos durante o resto da tarde na sombra das duas grandes árvores, um Carvalho e (julgo) um Vidoeiro, ambos bem fartos de folhas, alimentados pela ténue nascente que faz do local uma espécie de oásis no meio da aspereza tão própria da serra no Verão.



Ali nos fomos entretendo entre a simples pasmaceira de ficar de papo para o ar a ser simpaticamente atormentados por uma enorme variedade de insectos voadores e o perscrutar dos espaços em volta a observar a restante vida existente.





Desta feita os nossos amigos sardões, ao contrário do ano passado, foram menos attention whores, pelo que foi mais complicado captar imagens.



Por volta das 16h lá partimos montanha fora, ou dentro, passámos pelos prados onde as vacas meio derrubadas pelo calor tentavam pastar





Até que alcançámos então o outro lado da serra



onde iríamos procurar um local para pernoitar junto ao imponente Pé de Cabril com os seus 1200 metros acima do nível do mar.






Assim ia caindo a primeira noite,



mais uma refeição à base de enlatados e um céu estrelado de tirar o fôlego com a Via Láctea gloriosa a coroar a abóboda celestial e algumas estrelas cadentes a alegrarem as nossas conversas, enquanto ouvíamos uma opera intitulada "IVAN EL TERRIBLE" e fumávamos uns picas. E, claro, com as nossas velas de cemitério a servirem de “fogueira”.

Na manhã seguinte, mais fim de noite que manhã, iniciamos a descida da serra rumo à mata da albergaria, com o intuito de iniciar a subida às Minas dos Carris. Pelo caminho, ainda na descida rumo à mata, vimos cerca de 8 Garranos, infelizmente a luz era muito fraca para tirar uma foto em condições. Mas fico sempre tocado quando vejo estes cavalos a viverem as suas vidas, com a sua família, livres na serra.






Depois de uns quilómetros lá atingimos a entrada onde iniciámos a subia às minas. Já tinha feito este caminho por duas vezes e já estava mentalizado para um dia complicado, não só pela distância a percorrer mas porque o piso é extremamente complicado, consistindo maioritariamente de pedras soltas com uma forma arredondada, que nos fazem querer chorar de cada vez que damos um passo e constatamos que voltamos meio para trás. Mesmo assim, não deixa de ser um espanto que alguns tugas, sendo nós conhecidos como um povo que não gosta de grandes esforços, se dêem ao trabalho de o subir para deixar lixo no topo da serra, e pelo caminho, claro.
Pouco depois de iniciarmos a subida, fizemos uma curta pausa para um banho matinal,



para depois subir,



e subir,



E, quando o calor já era de mais, e tendo nós todo o tempo do mundo, decidimos ficar umas boas horas em banhos numa bela lagoa natural rodeada por um cenário magnífico. Tão maravilhosa era a água que também o meu telemóvel insistiu em dar um mergulho, felizmente sem consequências maiores que uma quase crise cardíaca da minha parte.





Por volta das 17h, quando o calor ficou menos sufocante, lá continuámos nós a… subir rumo ao planalto.



Onde ao chegar nos cruzámos com um grupo de vacas que agora, depois de tanto enlatado, me pareciam macabramente e encantadoramente deliciosas.



Depois de vencido o planalto, a parte animicamente mais complicada, chegámos então ao topo da serra prontos para desfrutar do local e da paisagem que nos iria acolher naquela noite.





Era tempo de mais enlatados, de sentir algumas saudades de casa e de um prato de boa comida, mas sobretudo era tempo de mais céu estrelado, mais conversas, mais picas e, num daqueles acasos que nos fazem sentir afortunados, de um especial sobre David Lynch na Antena 2, que nos iria conduzir até ao fim da noite.




Na madrugada seguinte, pouco depois de acordar, fui alertado por um ruído que me causou estranheza. Após vencer a confusão inicial ergui a cabeça e para meu espanto vi, qual enviados do grande bode, as silhuetas de duas cabras de montanha num penedo por cima da minha cabeça com o nascer do sol ao fundo. Tal foi o meu espanto e emoção que entre o acordar o Ermo aos gritos e o correr para tentar captar aquele momento com a máquina, os pobres bichos fugiram para nunca mais os vermos. Pelo menos o Ermo ainda foi a tempo de as ver também.

Pouco depois iniciámos a descida, brindados logo ao inicio pelo planar de uma ave de rapina de porte generoso. Aproveitámos para um mergulho nas lagoas dos quatro pinheiros (nome de código) para despertar e, de facto, deu forças para a infinita descida que se seguiu onde as pedras redondas além de não ajudarem a descer mais rápido serviram para que os nossos pés atingissem ângulos impossíveis. Pelo caminho despedimo-nos também das magnificas borboletas que nesta altura tanta cor dão ao parque (Euphydryas aurinia e Callimorpha quadripunctata).







No fim de descermos o Vale do Homem demos de caras com hordas de turistas tugas que contrastam com os estrangeiros maioritariamente por substituírem o equipamento de montanhismo por toalhas, chinelos e até cães irritantes, ficando-se pelas lagoas que ficam ao inicio do trilho onde podem facilmente largar as suas garrafas de plástico e invólucros de chocolates Mars.

Seguimos então pelo interior da mata da albergaria, onde fomos recolhendo umas amoras que nos serviriam de pequeno-almoço. Pelo caminho cruzámo-nos com algumas lemas de bom porte e com alguns escaravelhos de cores exóticas que se refastelavam numa bosta.







Na pausa do pequeno-almoço, mais um mergulho...




Seguido de uma curta caminhada até ao último mergulho da jornada. Onde eu acabaria por comer um manjar que consistiu em restos de broa misturados com lulas enlatadas. Recomendo vivamente! O Ermo comeu a sua 497ª lata de atum.





Terminada mais uma pausa de chill-out, seguimos na nossa caminhada. Agora pela estrada de terra batida, também parcialmente geira romana, que liga a Campos do Gerês.



Aqui dá-se mais um daqueles mistérios do nosso cantinho à beira mar plantado. É que embora o parque, ou as autarquias, dispensem dinheiro a contratar jovens para ocuparem uns postos de controlo, que como o nome indica deveriam servir para controlar, nomeadamente o transito dentro da zona protegida, informando as pessoas que não podem estacionar nem parar dentro dessa zona, assim como sobre o limite de velocidade, nada disso parece ser realmente controlado. Uma vez que se encontram pessoas paradas a fazer picnics (ou pique-niques, como dizem lá na França) em zonas explicitamente proibidas.

A chegada ao parque da Cerdeira foi gloriosa, como se pode ver pelas nossas faces, com o calor e o cansaço acumulado a fazerem estragos.



Assim terminou a nossa viagem pela serra. Seguiu-se o descanso e o retorno a casa no dia seguinte.