segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Stalker

Stalker é um assombro. Não que a história e a acção decorrentes sejam de perto tão boas como no livro dos irmãos Strugatsky, alias, embora se trate claramente do mesmo universo tudo o resto pouco tem a ver.  Mas visualmente é tremendo, digo-o sem exagero. Eu pessoalmente nunca tinha estado na presença de um filme em que acabado se fica com a nítida sensação de que se poderia decompor cada frame, ao longo das mais de duas horas e meia de película, e cada imagem valeria por si própria.

Como maior defeito sofre evidentemente de uma maior carga dramática que o livro. Não aborda nada que o livro também não aborde mas limita-se a explorar a carga existencialista do mesmo defraudando quem procura mais do que isso. Mas por outro lado é uma experiência curiosa por escapar aos paradigmas do cinema e explorar uma abordagem que lhe dá uma carga literária. Ou seja, embora realmente o filme seja uma adaptação muito livre do livro - mas não tão livre que não leve quem já leu o livro a reencontrar-se na Zona - ele é tão profundamente descritivo, pela sua lentidão, e tão forte a nível de imagem que escapa ao seu suporte.

Claro que não é o melhor filme de sempre mas é, para mim, o mais belo. E quando escrevo que é belo não o faço por ser apenas uma colecção de imagens bonitas mas sobretudo por ser um triunfo do engenho e da imaginação na criação dessas imagens e do seu movimento. Toda a sonoplastia é também magnifica contribuindo muito bem para construir a atmosfera hipnótica do filme, tornando-o até bastante pesado e mais difícil de digerir. E é aqui mesmo que reside o ponto que me fez amar o filme, da soma de todas as partes Andrei Tarkovsky e a sua equipa construíram algo que não é de todo user friendly - um pouco à imagem do que me faz adorar Lynch, embora nada tenham a ver - reflectindo também toda austeridade e glorificação do materialismo Soviético, o que por si só o torna um documento interessante. 




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